23/06/2025
HOMEM COM H
Que filme minha gente!
Essa cinebiografia de Ney Matogrosso oferece um rico material para análise psicanalítica, especialmente em relação à identidade, liberdade e relações familiares. Explora a jornada de Ney desde a infância repressora até a sua afirmação como artista e ícone de liberdade, mostrando a importância da transgressão e da busca por autenticidade. O filme retrata a constante transgressão de Ney em relação às normas sociais e morais, seja em sua vida pessoal ou em suas performances artísticas. A performance artística de Ney é vista como uma forma de expressar suas dores, desejos e frustrações, funcionando como uma espécie de catarse. A busca por liberdade é um dos temas centrais do filme, mostrando como Ney conquistou sua própria forma de viver e se expressar, sem se deixar aprisionar por padrões.
A história aborda a construção da identidade de Ney como um processo contínuo, marcado pela busca por autenticidade e pela rejeição de padrões impostos pela sociedade, abordando a sua liberdade de amar, sem amarras e sem definições de gênero. O filme também explora o desafio de Ney aos padrões de masculinidade, mostrando como ele construiu sua própria forma de ser e se expressar, rompendo com estereótipos.
O filme mostra também a relação com o pai, marcada pela rigidez e repressão, e sugere que a busca de Ney por liberdade e autenticidade pode ser vista como uma reação inconsciente a essa figura paterna autoritária. A mãe, por sua vez, parece oferecer um contraponto, simbolizando afeto e acolhimento, elementos importantes na formação da identidade de Ney.
Além de tudo isso, o filme traz a natureza como um elemento recorrente, simbolizando a busca por um estado original e a conexão com o mundo natural, que parece ser um refúgio para Ney.
HOMEM COM H é um filme sensível e que explora questões universais relacionadas à identidade, liberdade e relações humanas, comovendo e inspirando o espectador!

28/03/2025
Adolescência é uma minissérie britânica da Netflix, que gira em torno de um adolescente de 13 anos acusado de matar uma colega de escola. No início ela parece tratar de um suspense policial, mas, de repente, a série cresce e se torna maior do que ela mesma, me fazendo lembrar no final daquele ditado: “É preciso uma vila inteira para criar uma criança”.
A série traz inúmeros pontos para refletirmos, entre eles: misoginia, bullying, masculinidade tóxica, saúde mental, e funções materna e paterna na adolescência.
Considero importante pensarmos sobre alguns pontos “gritantes” da série:
• as redes sociais se tornaram sim um novo palco para a misoginia: algoritmos, símbolos, mensagens cifradas – a misoginia tem aí um lugar para habitar. Além disso, a série expõe o vazio de uma geração hiperconectada, mas solitária.
• a humilhação constante na adolescência que pode gerar sentimentos de exclusão, raiva e dificuldades emocionais.
• a masculinidade tóxica e suas consequências, como meninos que são ensinados desde muito cedo a reprimirem as suas emoções, sendo impedidos de lidarem de forma saudável com sentimentos como frustrações e inseguranças.
Todos esses pontos refletem sim preocupações inerentes à atual geração de adolescentes e merecem ocupar um lugar de destaque nos diálogos com este grupo. A questão não é vigiar, mas oferecer um suporte para que angústias, inclusive as advindas do campo virtual, sejam nomeadas. A saída? Mediação, não controle. Algoritmos não substituem perguntas como: “O que isso provocou em você?”
Mas quero também trazer aqui um contraponto, que penso ser importante considerarmos para além dos pontos acima citados: vem ocorrendo uma indevida demonização da adolescência digital. Nem todos os adolescentes no quarto estão tramando conspirações ou ataques sanguinários. Grande parte dos adolescentes, inclusive os meninos, não é misógina. Pelo contrário, a marca da nova geração é a sexualidade fluida, a diversidade e a amizade entre os gêneros. Talvez a distorção decorra do fato de que o pequeno grupo intolerante da atual geração seja mais visto, mais ruidoso, porque não tem vergonha de seus preconceitos e expõe isso nas redes sociais. Na série, o protagonista de 13 anos, Jamie Miller, tem sido generalizado como o protótipo coletivo da adolescência. Mas penso que ele é tão somente uma exceção, está longe de ser a regra. Na verdade, ele pode ser considerado um psicopata mirim, ninguém imagina que ele é capaz de uma atrocidade. Porém ele sofre de um desequilíbrio mental evidente, uma dupla personalidade, com explosão de fúria incontroláveis.
Mas Jamie não acontece em todos os lares, ele acontece raramente.
Que fiquemos atentos, sim!
Mas tranquilos também, para conseguirmos ter melhores diálogos.

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17/02/2025
A indicação de hoje é de um filme que busca desmascarar uma certa noção implícita na cultura de que a experiência do parto transforma magicamente as mulheres em criaturas altruístas, capazes de sempre encontrarem realização em sua dedicação completa aos filhos.
A trama conta a história de uma mãe que se afastou da carreira de artista e se tornou dona de casa para cuidar do filho, enquanto o marido trabalha em um emprego em outra cidade que o faz ficar distante da família por dias para sustentar a casa.
Ela percebe que as experiências vividas por ela, por sua mãe e por suas amigas de maternidade são quase sempre as mesmas. E por mais que o pai se esforce para entender, nunca realmente conseguirá absorver como realmente é a maternidade.
Dentre tantas outras reflexões importantes, uma se destaca neste filme: A de que não há vida minimamente satisfatória sem espaço para a criatividade. E só há uma maneira de sair do lugar de “puro instinto”: quando se abre a porta para o desejo! E mais uma vez, uma rede de apoio feminina também vem “salvá-la”, ajudando-a a sair de um lugar “sem espaço”.

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12/01/2025
E vamos estrear este ano com a indicação de um filme que nos traz muitas reflexões acerca das relações familiares, sejam as consanguíneas ou as “construídas”.
A dica é o filme O Trem Italiano da Felicidade (2024), que encontramos na Netflix.
“Amar é deixar ir” – Esta frase resume muito bem este filme!
Na Itália pós segunda guerra, muitas famílias estão na miséria e não têm como alimentar seus filhos. A única opção é deixá-los passar um período com famílias que podem alimentá-los e cuidá-los. Nesse período, as crianças vão para outra cidade e se tornam “filhos” de outras famílias, não só recebendo alimentação como também carinho e atenção, que muitas vezes faltam onde moram.
Ter essa experiência faz com que a vida dessas crianças mude totalmente e até mesmo seus comportamentos se tornem diferentes, revelando a importância do afeto para a vida de uma criança. Mas o filme nos convida também a refletirmos sobre a relação que essas crianças têm com suas famílias de origem e o que as liga a elas, se é só o laço sanguíneo ou um sentimento verdadeiro. E que nem sempre alguém é capaz de cuidar com afeto e carinho.
E fica essa reflexão: O que torna alguém um pai, uma mãe, um filho?
E do que um filho precisa para ser feliz?
Às vezes é bem menos do que a gente imagina.

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23/11/2024
Indicação de filme: Goyo (2024)
Somos todos um pouco falhos… e isso talvez explique a sensibilidade que permeia o filme Goyo, na Netflix! A história gira em torno de Goyo, um jovem com síndrome de Asperger que trabalha como guia no Museu Nacional de Belas Artes. Goyo não se encaixa nos padrões sociais e desafia aquilo que convencionamos chamar de “normal”. E aí está a beleza do filme!
Ele é um grande fã de Vincent Van Gogh e segue uma rotina extremamente regrada até a chegada de Eva em sua vida.
Eva, uma nova segurança no museu, acabou de se divorciar e não acredita mais no amor. Ela enfrenta dificuldades em acreditar no amor e acha que nunca mais encontrará alguém.
À medida que o filme avança, Goyo e Eva encontram conforto um no outro e começam a se apaixonar. Um turbilhão de novos e poderosos sentimentos inevitavelmente tomará conta deles durante esse processo!
Um filme leve, sensível e que nos possibilita muitas reflexões!

16/09/2024
A dica de filme de hoje é A Sociedade da Neve (2023), na Netflix.
Baseado em fatos reais, este filme me emocionou muito! É uma história de sobrevivência, fé, esperança, resiliência, trabalho em equipe e muita superação!
A história é baseada no ocorrido em Outubro de 1972, quando um avião uruguaio com destino a Santiago, no Chile, cai nos Andes. O avião transportava 45 pessoas, incluindo um time de Rúgbi e, para não sucumbir em meio à neve, os sobreviventes precisaram se organizar e praticamente criar uma “sociedade”, com regras e níveis hierárquicos, para superarem as dificuldades. Dentre os sobreviventes haviam religiosos que se apegavam à fé para não se desesperarem, mas ao mesmo tempo que acreditavam, temiam por uma punição caso precisassem se alimentar dos mortos.
E o que faz com que toda essa experiência se torne possível de “atravessar” é a amizade que se cria entre os sobreviventes, fortalecendo-os e incentivando-os de toda forma a sair de lá. Sobreviventes da tragédia elogiaram a fidelidade com que o diretor do filme retratou os fatos! Enfim, um filme que emociona e mostra que estar em grupo diante de uma experiência tão marcante foi o que tornou possível o enfrentamento da tragédia para os sobreviventes, e a esperança em dias melhores.
Prepara o coração, corre lá e assiste!
